O Autor e a Peça //The author & The play//
O AUTOR
Plínio Marcos (1935-1999)
“Onde existe autoritarismo o artista é sufocado.
O autoritarismo gera obscurantismo que favorece
o copiador, o bobo da corte e os senhores da estética decorativa.”
“Os extremos marcam as peças de Plínio Marcos.
É ainda e sempre o realismo cortante, não psicológico, mas miserável, com personagens em extremos, carregados pela realidade de um país em limite de miséria. Personagens que convivem num ambiente abjecto, sufocante, de ruínas urbanas, em quartos de cortiço (1) , sob lonas de circo, debaixo de viadutos: a cidade decaída.
Os seus textos, quando lidos sem intermediação do actor, sugerem pouco, mas assim que sobem ao palco, ganham dimensão de grande dramaturgia. É uma arte grosseira, a de Plínio Marcos, que aponta falta de acabamento, criação de impulso, sem refinamento.
Mas é ouvir um, dois actores interpretando as suas falas e surge humor, tragédia, o grande teatro.”
(1) Bairro degradado.
// Plínio Marcos’ plays are distinguished by its extremes. It’s sharp realism, non psychological but miserable, with characters that live together in a despicable, suffocating environment of a city in decay.
When read without the intervention of actors, his plays don’t suggest much but as soon as they go on stage, they achieve the dimension of great dramaturgy. //
(Texto extraído do jornal Folha de S. Paulo de 18/02/1998)
// text from the newspaper Folha de S. Paulo 18 /02 !1998 //
“Teatro só faz sentido quando é uma tribuna livre
onde se pode discutir até às últimas consequências os problemas dos homens.”
-Plínio Marcos-
A PEÇA // The Play// Dois Perdidos Numa Noite Suja
“ Há no conflito entre Dois Perdidos (...) uma linguagem emocionante, despojada, termostática nas graduações de
temperatura social e dramática, em que a palavra sobe e desce para determinar as situações humanas, levadas de limite em limite até ao extremo fatal e inexorável de uma realidade que condena. (...) o final da peça é a hemorragia do câncer. Impiedoso. Cruel. Anti-Romântico.”
// In the conflict between the two men in the play, there’s a thrilling, despoilled language where the words determine human situations, pushed from one limit to the other until the fatal extreme of a reality that condemns.
The end of the play is the bleeding of a cancer. Merciless. Cruel. Anti-Romantic. //
-Alberto D`Aversa-
DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA - Moderna Dramaturgia Brasileira
Racionalizando, hoje em dia, sua criação, Plínio acredita que tenha introduzido nela aspectos sociais, que não perderam actualidade. Basicamente, está em jogo o problema da migração : os conflitos aguçam-se, quando alguém se desvincula de sua cultura. (...) Segundo Plínio, Dois Perdidos contém um elemento novo – a consciência de que não existe apenas uma cultura. De facto, há a erudita, a de massa, a popularesca e a popular. Cada homem fala em nome de sua própria cultura, não se entendendo com as demais. (...)
A linguagem, para exprimir o clima de verdade, não poderia recorrer a falsas delicadezas. Daí a crueza, a frase cortante, a sabedoria popular, a recusa da literatura. (...)
// To express the atmosphere of truth, the language could not resort to false courtesies. That’s the reason for the cruelty, the cutting words, the popular wisdom, the refuse of literature. //
De um ponto de vista exclusivamente dramático, Dois Perdidos proporcionou numerosa e expressiva descendência de textos de duas personagens, nos últimos anos da década de 60. Seu denominador comum era a quebra de todos os tabus – honesto grito de revolta de uma geração inconformada. Privilegiou-se a explosão individual, em lugar da análise esquemática dos jogos de força políticos. Plínio Marcos á sua revelia, foi erigido um novo mestre da dramaturgia brasileira.
(em; MAGALDI, Sábato. Moderna dramaturgia brasileira. São Paulo: Perspectiva, 1998. (Estudos. Teatro), pp. 215-221)
“O ator começa a ficar soberano do seu talento
quando ganha consciência de que entra no palco para servir e não para ser servido.”
-Plínio Marcos-
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